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quarta-feira, 29 de junho de 2016

Oportunidades na comunidade para uma educação integral

Romper os muros da escola: eis o grande desafio. Essa ruptura exige mudança de paradigmas bastante solidificados no imaginário dos educadores, ainda.

Desde a década de 1990, quando assistimos ao maior movimento de inclusão educacional no Brasil, fala-se em derrubar os muros da escola e estabelecer um elo funcional dessa instituição com a comunidade, com a cidade na qual está situada. É o movimento de apropriação para fins educativos dos bens culturais, das práticas laborais, dos espaços de lazer e de recreação, enfim, a instituição escolar precisa expandir o conceito de sala de aula.

A escola não pode continuar sendo uma ilha na sociedade. O que acontece dentro dela não ter relação com o mundo que a cerca faz com que sua agenda seja estranhada pelos estudantes, e mais uma vez fragiliza a intenção de se contruir uma formação acadêmica significativa.

O que se aprende na escola se aprende para viver melhor na sociedade. Esse deve ser o princípio fundante do projeto político pedagógico. E viver melhor na sociedade exige compreender a complexa teia de relações que se desenvolvem na comunidade, pois esse é o livro que o estudante escreve juntamente com seus familiares e não pode ser ignorado pela escola.

Partir do que o aluno sabe é uma premissa pedagógica. Mas é preciso ir além. É preciso partir de onde o aluno vive. De suas vivências e ansiedades para melhorar suas condições de vida é que podem emanar as principais contribuições da escola na formação intelectual e cidadã das crianças e jovens.

Ainda há de se considerar que os estudantes não conhecem toda a sua cidade, sua história,  todos os bens culturais e atividades produtivas, por exemplo. Nesse caso, a escola pode proporcionar essa aprendizagem.

Estou tratando nesse texto da necessidade de construir uma escola verdadeiramente inclusiva, que dialogue abertamente com as condições sociais e econômicas de seus estudantes, com a cidade onde vivem. Esse é o contexto necessário para o processo de aprendizagem sustentável e que pode proporcionar aos alunos o entendimento da função social da escola e o sucesso acadêmico.

sábado, 25 de junho de 2016

Educação Integral

Em oposição ao entendimento de uma educação estruturada na fragmentação do currículo e exclusivamente focada no desenvolvimento cognitivo, consolida-se no Brasil o conceito de educação integral.

Esta abordagem tem em seu princípio que para formar bem crianças e jovens, no contexto da complexa sociedade contemporânea, necessita inserir na agenda escolar novos elementos pedagógicos que ampliem as oportunidades de aprendizagens para além da memorização de conceitos científicos e do desenvolvimento de habilidades e competências cognitivas.

As competências socioemocionais, a fruição das artes, a inserção dos estudantes nos temas da comunidade, entre outras frentes, devem compor o itinerário formativo na educação básica. É preciso compreender o homem como ser multidimensional, com interesses e necessidades diversas.

Educar de forma integral é ter clareza de que não é possível ensinar sem contexto, de que não é prudente quebrar os conteúdos em caixinhas cada vez menores para acelerar o repasse de informações.

A escola deve estar articulada com a vida real. Na vida real não tem caixinha. Tudo está conectado numa grande teia de interações presenciais e virtuais. Os problemas não são apresentados as pessoas de forma fragmentada. Portanto, é preciso elaborar uma proposta pedagógica que dialogue melhor com as necessidades de cada cidadão em formação.

Nesse sentido, as relações interpessoais; o senso estético; vivência das artes; questões sobre identidade e construção do EU; gestão de conflitos; resiliência; protagonismo, entre outros, devem ser, além dos conteúdos clássicos, pauta oficial da escola que se propõe a formar integralmente seus estudantes.

sábado, 18 de junho de 2016

Integração curricular: como tornar possível?

Fala-se em integração curricular porque a aprendizagem significativa, que faça sentido, precisa ocorrer de modo a proporcionar o entendimento das complexidades da sociedade contemporânea. As caixinhas das disciplinas, isoladamente, não respondem a essa exigência.

É claro que deve haver espaço na escola para o específico. As disciplinas assim foram estruturadas para dar conta da tradução didática de conhecimentos científicos bastante robustos que foram desenvolvidos ao longo dos tempos. Portanto, não defendo friamente o fim das disciplinas e o ensino por áreas, como muitos o fazem. A escola precisa de conteúdo, não apenas de forma.

Creio ser possível uma organização curricular que consiga dar conta da integração dos saberes sem a eliminação, necessariamente, das disciplinas. Claro que requer desprendimentos e mudança de paradigma na concepção e organização da agenda de cada componente do currículo.

Na rede estadual do Ceará, vem se desenvolvendo uma experiência que já chamei a atenção em outros textos: o Núcleo Trabalho, Pesquisa e demais Práticas Sociais (NTPPS).

O NTPPS proporciona, entre muitas outras experiências, duas atividades que considero basilares para uma proposta de integração curricular: a construção do projeto vida por cada estudante; e a apropriação do método científico.

Com o projeto de vida de cada estudante sistematizado, a escola tem elementos preciosos para reestruturar seu projeto educativo em itinerários diversificados. Isso traz o estudante para o centro das decisões. As ofertas de disciplinas do núcleo comum e eletivas devem dialogar com esses projetos.

A apropriação do método científico pelos estudantes efetiva a construção do conhecimento. Quando o aluno se envolve em um projeto científico, a aprendizagem ganha significado pois o que se estuda nas disciplinas passa a fazer sentido e ajuda a compreender situações reais.

É o início de um longo debate. Mas precisamos empreender novas iniciativas para proporcionar a tão necessária integração curricular.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Escola de ensino médio não pode ser binária

A escola de ensino médio não pode ser estruturada com apenas uma proposta formativa. Se assim o é, o aluno tem duas decisões possíveis: topa o desafio de se adequar ou a abandona. Portanto, binária.

E nesse modelo tem-se um agravante: nem todos que topam o desafio de se adequar, conseguem aprender o esperado para a série que estuda. Por sinal, é um percentual ainda muito rebaixado.

Não há saída já pronta. A tradição educacional brasileira é muito forte e "meritocrática", ou seja, se coloca um caminho formativo com os mais avançados conhecimentos das ciências organizados em 13 disciplinas. Os que conseguirem ter um aprendizado satisfatório em "todas", é declarado bem sucedido na escola e consegue as vagas mais concorridas na universidade.

A grande questão é que no Brasil não se consolidou a visão de que temos juventudes com interesses múltiplos. Ou mais grave, até se compreende isso, mas não os considera legítimos a ponto de organizar a escola de ensino médio que dialogue com esses interesses.

Não consigo vislumbrar outro caminho nesse momento senão o dos tempos eletivos como alternativa para flexibilizar o currículo do ensino médio. É preciso que aos estudantes seja dada a oportunidade de trilhar itinerários formativos que respondam melhor ao que está posto nos seus projetos de vida.

A minha crença é que o estudante, ao desenvolver aprendizagens associadas com seus interesses, consiga se vincular ao projeto pedagógico da escola assumindo o protagonismo estudantil e sentindo, verdadeiramente, que a escola faz sentido.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

A organização curricular no Brasil pós 1990

Nos anos de 1990 ocorreu o maior processo de inclusão de crianças na escola. Período pós promulgação da constituição cidadã, onde se registra o maior aumento de matrículas e, consequentemente, dos índices de atendimento da faixa etária de 7 a 14 anos, prioridade naquele momento.

A população brasileira, em toda a sua diversidade, passou a estar presente na escola, instituição que até pouco tempo era privilégio de um número bem inferior de cidadãos.

Mas o modelo pedagógico, a estrutura curricular e os instrumentos de aferição da aprendizagem continuaram os mesmos praticados numa escola menos plural, claramente elitista e baseada no controverso "espírito" da meritocracia, onde se classificava do "melhor" para o "pior" aluno. 

O currículo não se adequou ao novo movimento republicano que se instalava no Brasil, pois continuou unitário, padrão e impositivo. Ora, a escola recebeu o "novo" aluno da escola pública mas o tratou como se as características dos já incluídos tivessem. Infelizmente, os altos índices de retenção e abandono mostram a inadequação do modelo pedagógico. Esse movimento claramente exigia uma nova escola.

Passados quase três décadas dessa restruturação da escola pública, ainda não conseguimos repensar a organização curricular de modo a dialogar efetivamente com esses sujeitos. Contabilizamos quase 17% de jovens de 15 a 17 anos fora da escola e é preciso criar uma escola verdadeiramente inclusiva.

Nesse contexto, pensar a flexibilidade do currículo com a composição de itinerários formativos diversos pode representar uma mensagem mais objetiva de que se quer respeitar as diferenças e possibilitar o sucesso acadêmico de todos os estudantes.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

O ensino médio deve proporcionar múltiplos itinerários formativos

A escola que apresenta aos jovens que cursam o ensino médio apenas um itinerário formativo, com os tempos de cada componente curricular pré definido, dificilmente conseguirá dialogar com os seus anseios e diferentes projetos de vida.

Paira na cultura educacional brasileira que a organização curricular presente em quase a totalidade das escolas, públicas e privadas, os tempos e as disciplinas, é uma definição ad infinitum pois se acredita ser a única possível.

A LDB já aponta outros caminhos, como vemos no Art. 23: "A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar."

Mesmo com esse indicativo legal, percebe-se um grande receio em buscar alternativas no sentido de diversificar a forma de oferta do ensino médio. Adota-se o modelo unitário, seriado e hierárquico. A escola define autocraticamente os tempos de cada disciplina, dando mais aula sobre os temas tidos como mais importantes e o interesse dos alunos não é, infelizmente, considerado.

Defendo, portanto, uma organização escolar baseada num projeto pedagógico de itinerários formativos múltiplos, onde boa parte do tempo dos estudantes é de cunho eletivo e que a escola consiga ajudá-los a trilharem uma formação alinhada com seus projetos de vida, com suas expectativas de desenvolvimento profissional e práticas de cidadania.

É claro que isso exige a consolidação de novos paradigmas pedagógicos: a aula não pode ser pensada desconexa do projeto pedagógico da escola; exige maior capacidade da gestão pedagógica em articular e integrar o currículo.

Enfim, é preciso pensar fora dos dogmas predominantes na educação brasileira atualmente.