O princípio pedagógico da simultaneidade, no qual, em síntese, a educação acontece na crença de que os estudantes postos numa sala de aula são capazes de aprender em função da exposição de conteúdos para todos ao mesmo tempo, encontra seus limites quando concebemos uma escola na perspectiva de promotora de uma formação integral.
A partir do século XIX, inicia-se no mundo a empreitada de proporcionar educação formal a totalidade das crianças e jovens por meio de instituições de ensino. Estava em voga o desenvolvimento do sistema sofisticado de produção capitalista e, para implementá-lo, necessitava de pessoas com noções da língua culta, matemática e de outros conhecimentos "úteis" à atividade produtiva moderna. A educação em "massa", nesse contexto, exigia novos métodos pedagógicos que substituíssem a relação de ensino-aprendizagem milenar como a mentoria, relação de mestre e discípulo, que era uma prática quase "um a um", ou seja, para cada estudante, um professor; e que nessa perspectiva de universalização da educação formal, era inviável.
A partir dessa necessidade de educação para todos, estruturou-se um regime mais padronizado de ensino, a partir da sistematização de conteúdos básicos que deviam ser ensinados a todos, utilizando-se a organização de disciplinas de modo que o conhecimento chegasse aos estudantes. Daí porquê algumas metáforas são utilizadas associando a escola moderna com uma linha de produção fabril.
É importante fazer aqui uma ressalva: esse modelo começa a atender as pessoas de acordo com as condições econômicas da família. Os primeiros beneficiados desse sistema de ensino foram os mais ricos até, que na última etapa de inclusão, chegaram a esta escola os mais pobres. No Brasil, esse processo foi mais demorado para ser implementado e somente na década de 1990 começamos a registrar os primeiros indicadores de universalização da matrícula de crianças com idade escolar no ensino fundamental. Essa informação é apenas para contextualizar o que insistentemente denominamos de "crise" do ensino público. Adiante!
Não conto esta história para desqualificar o esforço de levar a educação formal a um número maior de pessoas. Reconheço que ter acesso ao conhecimento produzido e sistematizado pela humanidade ao longo de milhares de anos está consolidado como direito graças a esse fenômeno. Mas é preciso compreender também que vivemos novos tempos e tornou-se necessário repensar a organização escolar de modo a reconhecer a singularidade de cada sujeito. O ensino "massificado" deve dar lugar a aprendizagem "pessoalizada".
É com base nesta análise que acho extremamente oportuno tratar, de forma mais séria e com a intencionalidade devida, de projeto de vida e plano de estudo de cada estudante. A escola, definitivamente, precisa ser espaço para o desenvolvimento pleno das pessoas. Assim, reconhecendo os interesses e necessidades de aprendizagem manifestas nos projetos de vida, abre-se espaço para o desenvolvimento de itinerários formativos diversificados, compatíveis com os múltiplos anseios das juventudes e suas perspectivas de futuro.
O tempo integral permite que esta diversificação de itinerários, principalmente por meio da oportunidade que cada estudante tem de trilhar caminhos específicos com a composição de componentes curriculares eletivos em sua jornada escolar, proporcione uma formação significativa e articulada com a identidade que cada jovem constrói de si mesmo.
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