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segunda-feira, 13 de março de 2017

Novas perspectivas para a educação na contemporaneidade: os estudantes

No artigo que tratei sobre novas perspectivas para a organização do trabalho docente, abordei as questões relacionadas à necessidade de se considerar o processo transicional de dois aspectos, inspirado numa palestra de António Nóvoa realizada em julho de 2016 no Instituto Ayrton Senna, em São Paulo: do individual para o coletivo; de uma pedagogia frontal para uma pedagogia do trabalho.

Agora tratarei sobre as mudanças sugeridas pelo mesmo pesquisador a respeito da participação dos estudantes no processo de aprendizagem, considerando o advento de uma nova pedagogia: a do trabalho. Nesta estrutura pedagógica, o estudante não somente "escuta aula", mas assume o protagonismo a partir da sistematização de sua curiosidade e busca, pela pesquisa científica e outros métodos de trabalho escolar que requerem a participação ativa do estudante, construir novas aprendizagens de modo a desenvolver as dimensões do "Aprender a Aprender" e do "Aprender a Fazer".

Nóvoa aponta, da mesma forma que o fez para os professores, duas mudanças na forma de organização do trabalho dos estudantes frente aos novos desafios da aprendizagem escolar: de uma arrumação orgânica dos alunos para uma diversidade de formas de estudos e de trabalho; de uma atitude imóvel para uma aprendizagem baseada na cooperação.

É importante ressaltar que António Nóvoa expressa em seus textos e palestras sua crença de que a escola, da forma que a conhecemos, dividida em compartimentos que são chamados de sala de aula e baseada no desfile de conteúdos a cada 50 minutos, está em processo de desconstrução. Esta escola, assim constituída, não consegue desenvolver uma educação integral dos sujeitos. Por isso, repensá-la, é uma questão posta na agenda do dia dos educadores.

Com este esclarecimento, a primeira transição apontada por Nóvoa: "de uma arrumação orgânica dos alunos para uma diversidade de formas de estudos e de trabalho", desafia professores e gestores a pensar em novos arranjos pedagógicos e sobre a organização dos espaços de modo a refletir oportunidades de aprendizagens mais consistentes para os estudantes.

O currículo escolar pode ser trabalhado além da sala de aula e de discursos ou palestras. A diversidade de formas de estudo e de trabalho pode ser traduzida na disposição dos estudantes em grupos de pesquisa, na aprendizagem cooperativa, em interação com pessoas da comunidade, em aulas de campo, na participação de debates estruturados, em clubes estudantis, em componentes eletivos, entre muitas outras possibilidades.

Enfim, exige a concepção de uma escola dinâmica, baseada em conteúdos que são passíveis de interações e vivências, em que a aprendizagem acontece mais pela orientação dos professores do que pelo "ensino", restrito à sala de aula.

A segunda dimensão, "de uma atitude imóvel para uma aprendizagem baseada na cooperação", fica apontado a premissa de que o estudo não tem razão de ser uma tarefa isolada. Entendo que a busca pelo "primeiro lugar", tão valorizada na famigerada "meritocracia", mesmo numa sociedade tão desigual como a brasileira, sinaliza o contrário: o individualismo. O colega, antes de ser um amigo, é um concorrente. Lamentável!

Neste cenário, a cooperação muitas vezes é vista, preconceituosamente, como atraso. Dizem os pessimistas e adeptos da pedagogia da concorrência: os alunos que já estão bem nos estudos podem se atrasar na interação com os colegas com mais dificuldades. Ora, frases como essas sinalizam ou não uma competição? Uma corrida para ver quem chega mais longe e em primeiro lugar?

A cooperação entre os estudantes é um dos elementos estruturantes da educação integral e os coloca numa mesma vibe: inclusiva e solidária. A cooperação, nesta perspectiva, é um ato de rebeldia contra a anomia provocada nos estudantes ao aprenderem algo que não pode ser compartilhado, apenas aprendido para se sair bem nos testes cognitivos.

A aprendizagem escolar deve representar a autonomia intelectual, a capacidade de aprender ao longo das vida. Assim, a escola tem o dever de simular os desafios que são apresentados aos cidadãos de uma sociedade casa vez mais mais complexa, fundada no conhecimento e nas tensões provocadas pela convivência de ideologias tão divergentes.

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