quinta-feira, 22 de setembro de 2016

O ensino médio e as medidas provisórias

Estamos diante de um desafio: melhorar a qualidade da escola de ensino médio. Este desafio está claro!

Todos sabemos que nesse nível de ensino, há uma cobrança mais intensa da sociedade, pois se trata do último nível da educação básica, e muitos jovens, ao concluir, não desenvolveram o domínio das dimensões cognitivas adequadas ou pior, não conseguem nem mesmo chegar ao final, ficando pelo caminho devido a sucessivas reprovações e desestímulo, na maior parte das vezes, ainda no ensino fundamental. E essa constatação para uma nação que almeja um futuro melhor, é trágica!

O currículo do ensino médio precisa de mudança? Tenho convicção que sim. É importante melhorar o clima escolar, a partir da sistematização de um projeto pedagógico que dialogue bem com as juventudes, seus anseios e projetos de vida, possibilitando diferentes itinerários formativos.

Mas mudanças em uma cultura cristalizada de ensino não se dá por Decreto, ou melhor, por Medida Provisória. Qualquer turbulência em que não se pode prever as consequências coloca em xeque a credibilidade de quem as propõe perante a comunidade escolar. O sentimento de responsabilidade é irrevogável.

As redes de ensino que já se arriscaram a implementar algumas mudanças no currículo do ensino médio, tão somente utilizando todas as oportunidades que a LDB já dispunha, como é o caso da rede estadual do Ceará, com a implantação do Núcleo Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais (NTPPS), componentes curriculares eletivos e o tempo integral, podem testemunhar que mudanças dessa natureza requerem diálogo, formação contínua de professores e consistência pedagógica dos novos caminhos.

Não podemos pôr em risco o futuro de uma geração com aventuras em massa, não testadas amplamente e avaliadas quanto aos seus efeitos.

Estamos prestes a assistir no Brasil, com a recente Reforma do Ensino Médio proposta pelo MEC, de forma aligeirada e sem acúmulo nacional de consensos, um grande mal estar, com a sensação de mudanças sem contexto.

O Ministério conseguiu colocar no mesmo conjunto de normas que almejam mudanças no currículo, com um novo horizonte de tempo para a jornada escolar, flexibilizações bruscas nas rotinas de contratação de professores, que pode dominar a pauta das discussões dos próximos dias e esconder as reflexões possíveis sobre o desenvolvimento de um currículo que responda aos desafios do ensino médio.

Tipo de Erro que os mais apressados sempre cometem!

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Qualidade e equidade nas séries iniciais do Ceará

No último 8 de setembro, o MEC divulgou o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) calculado a partir da Prova Brasil e Saeb aplicado em 2015. Trata-se de um índice que sintetiza dois indicadores: 1) desempenho acadêmico dos alunos em linguagem e matemática e 2) taxa de aprovação.

Ao analisar o desempenho dos municípios do Ceará nesse índice, nas séries iniciais, pode-se destacar alguns elementos importantes:

a) o Ceará foi o único estado da federação em que todos os municípios alcançaram a meta projetada para 2015;

b) dos 183 municípios que tiveram Ideb calculado, 68 já têm índice superior a 6, representando 37,2%. Em Pernambuco, estado do Nordeste com características parecidas com a do Ceará, 8 municípios conseguiram esse índice, 4,4% do total;

c) no 5º ano, em Língua Portuguesa, a diferença da média de proficiência dos alunos no quintil mais alto do índice socioeconômico em relação ao quintil mais baixo é de apenas 0,3 pontos. Já na Matemática, os alunos mais pobres se saíram melhor, com 7 pontos a mais na média.

Isso quer dizer que a escola pública cearense vem conseguindo desenvolver aprendizagem para todos, na busca constante da equidade. Enquanto nos demais estados da federação a diferença econômica afeta consideravelmente o desempenho acadêmico, onde os alunos com condições socioeconômicas melhores tiram notas mais altas, no Ceará essa diferença é praticamente nula.

Esses resultados têm grande relação com o Programa de Alfabetização de Idade Certa (Paic), que é feito em parceria com os municípios cearenses. Desde 2007, a Seduc apoia os municípios na definição das orientações curriculares, material didático e acompanhamento das redes de ensino.

No fim de 2015 o governo lançou o Programa de Aprendizagem na Idade Certa (Mais Paic), que expande os critérios de distribuição do ICMS e a premiação do Escola Nota 10 para os Anos Finais do Ensino Fundamental. A formação de professores para essa etapa também foi contemplada e já está em prática a partir de 2016. Espera-se que, com a expansão do programa, os resultados impressionantes dos Anos Iniciais cheguem à etapa final do Ensino Fundamental e, posteriormente, ao Ensino Médio.

O Ceará, é possível afirmar diante dos dados, vem conseguindo consolidar uma rede pública de educação, onde todos os municípios vêm respondendo positivamente aos estímulos institucionais propostos pela Secretaria da Educação. Isso porque o Governo do Estado, numa decisão pioneira no Brasil, resolveu apoiar as gestões municipais com investimentos e assistência técnica, quebrando o paradigma de que o Estado é responsável apenas por sua rede de escolas.


Lucas Fernandes Hoogerbrugge
lucas.fernandes@seduc.ce.gov.br
Coordenador de Cooperação com Municípios (Seduc-CE)

Rogers Vasconcelos Mendes
rogers@seduc.ce.gov.br
Coordenador de Gestão Pedagógica (Seduc-CE)

Publicado no Jornal O POVO no dia 12 de setembro de 2016. Clique AQUI

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Lições da sala de aula: Educação Republicana tem como princípio a inclusão e a cooperação

Na educação pública, a competição não é um bom caminho. A meritocracia encontra muitos limites num contexto de intensa manifestação de desigualdade no acesso à oportunidades.

Sei que a sociedade embriagada no espírito do capitalismo, baseada no lucro e no primeiro lugar,  eleva bastaste o grau da competição nas relações sociais e institucionais. Sempre é enfatizado os que "conseguem", os melhores. Para estes, a glória!

Todos os cidadãos e as instituições que ficam depois do primeiro lugar sentem-se motivados(as) para vencer na próxima? A constante exclusão ou rebaixamento nos muitos rankings possíveis é uma boa estratégia para motivação das escolas em larga escala? Dentro da sala de aula, a não atenção aos que não manifestam interesse no momento é mesmo justificável?

Ora, "o sol nasce para todos, logo todos são capazes e têm as mesmas oportunidades!" Dizem os que respondem "sim" a estas perguntas. Há quem responda "em algumas situações" é necessário aplicar a meritocracia, pois a escola não pode ser uma ilha e precisa adequar-se as estruturas da sociedade competitiva que se consolida. E os que respondem "não" baseiam-se nos princípios de uma escola não reprodutivista, emancipadora.

A pedagogia do "ninguém para trás" deve ser a premissa nas escolas públicas. A ausência dessa premissa compromete o desenvolvimento da função social da instituição escola e reforça a lei da selva urbana: "cada um por si, Deus por todos".

Na sala de aula e nas relações de rede entre as escolas, é importante que a cooperação seja a regra. E para ter cooperação tem que ter partilha de experiências e a concretude do interesse em corresponsabilizar-se.

O filme "Escritores da liberdade", de 2007, inspirado em uma história real, caricatura o que quero expressar nesse texto. Nessa obra, as lições aprendidas são:

a) não há educação verdadeiramente inclusiva quando a vida de cada sujeito não for tema das aulas;

b) turmas "especiais" para os que não conseguiram aprender no tempo esperado reforça a exclusão;

C) os sentimentos devem fazer parte da agenda escolar, desprezá-los não é sensato.