O discurso autoritário baseado em uma suposta neutralidade da educação é uma ensurdecedora falácia.
O Brasil é um país diverso, cujas relações sociais foram forjadas em uma estrutura aristocrática e escravista. A origem do Estado Brasileiro está fincada, portanto, no autoritarismo e na ideia de cultura dominante e que se esforça em negar as manifestações do que não é espelho. Se o projeto de sociedade que se defende tem relação com este modelo, a escola não precisa contextualizar o que ensina e, nesta premissa, a “escola não é para todo mundo”.
Ensinar os “conteúdos já legitimados” e promover a memorização de conceitos-chaves das ciências, somente, responderia à expectativa deste modelo societário, pois não se questiona o que se deve aprender.
Por outro lado, se o projeto de sociedade se pauta na inclusão, que cultiva a crença de transformação das realidades socioeconomicamente vulneráveis por meio da educação e na ampliação irrestrita das oportunidades de desenvolvimento de cada pessoa, a escola deve ampliar seu referencial curricular e ir além dos processos de aprendizagem sobre o nosso código linguístico e das ciências.
A escola pensada para todos não pode ser isenta. O conceito de multicultura deve estar presente nas práticas educativas. A história de vida dos estudantes precisa ser externada e reconhecida para que se criem vínculos entre a identidade pessoal e comunitária com a visão de futuro a respeito da própria existência.
Nesta perspectiva, proporcionar ao estudante a percepção da realidade em que vive na dinâmica do que se estuda promove algo que a escola “clássica” tem dificuldade em ensinar: a conjugação do verbo esperançar, que se traduz na capacidade de se juntar a outros para construir de outro modo.
A ação educativa está associada a um projeto de sociedade. Não se pode pensar escola sem refletir sobre os próximos passos de amadurecimento da nossa nação: como queremos nos ver no futuro?
Artigo publicado no Jornal O Povo em 6 de novembro de 2019
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