A escola é, por vezes, simplesmente a reprodução das manifestações culturais tal como existem fora dela, pelo menos daquilo que geralmente se crê, mas que nem sempre se pratica. Nas relações entre os sujeitos que dela fazem parte, percebem-se as marcas do comportamento idealizado e da tentativa de se impor uma moral pura e casta, impedindo e reprimindo aqueles que não seguem o script da “perfeição comportamental”, flagelando quem não se identifica com o estereótipo fixado de homem e de mulher, por exemplo.
O “enquadra-te ao comportamento idealizado ou pede para sair” gera um clima de tensão insuportável para muitos estudantes, não favorecendo em nada as práticas pedagógicas de ensino e aprendizagem, levando ao constrangimento que culmina na exclusão e abandono escolar.
Mas a escola também é o lugar para questionamento e quebra das marcas sociais que geram exclusão e infelicidade na construção da identidade pessoal. É dever primeiro da escola estruturar ambiente de inclusão, não deixando de fora as pessoas que encontram dificuldades com os padrões pré-estabelecidos pela sociedade e que precisam de apoio para se aceitarem e viverem em sociedade por inteiro. Nesta frente, a instituição educativa ocupa um lugar importante no processo de socialização das crianças e jovens que estão vivenciando o processo de descobertas e construções do “eu” e enfrentando os dilemas associados à “culpa” por ser diferente.
É condição para cumprimento da função social da escola que os processos educativos se desenvolvam em um clima de acolhimento e de empatia, em que ressentimentos e vergonha não componham a face dos discentes e professores. A boa aprendizagem se materializa quando o clima escolar baseado no respeito prevalece.
O que se assiste no Brasil nos últimos anos, sob o apelo difuso para implantação da “escola sem partido” ou para proibição do monstro criado com o nome “ideologia de gênero” é apenas uma famigerada estratégia para permitir que o autoritarismo inquisitório prevaleça em detrimento do libertador processo de aprendizagem e elaboração da autonomia intelectual.
Ao contrário dos exageros que se prega em nome da “preservação da família”, defende-se que a escola não seja um instrumento ideologizado para legitimar a exclusão em nenhuma situação, seja por questões de renda das famílias ou por causa da identidade construída por cada pessoa.
A escola deve cumprir sua finalidade de garantir aprendizagem de qualidade a todos, e para isso precisa construir um ambiente de respeito e compaixão, e nunca de doutrinação fundamentalista.