Nos primeiros contatos com a atual vice-governadora do estado do Ceará, professora Izolda Cela, quando esta deixou sua marca como Secretária da Educação, entre 2007 e 2014, uma frase que ela expressou me balançou e me pôs a pensar compulsivamente: “dois aspectos precisam ser desenvolvidos nas pessoas para uma sociedade justa - a ética e a esperança”.
Não sei se esta frase impacta outras pessoas como impactou a mim, mas essa palavra “esperança”, nesse contexto, dita como algo que está passível de desenvolvimento, e não fruto do inato, do acaso, me conduziu a construir uma linha de trabalho na orientação pedagógica, por onde passei até agora, de modo que esse conceito, tão intangível e volátil, se tornasse objeto de aprendizagem e conteúdo.
Os esforços dos educadores devem estar focados na garantia de que todos os estudantes aprendam os conteúdos clássicos relacionados aos componentes curriculares, como matemática, história, física e todos os demais e, ainda, tornem-se fluentes na língua portuguesa. Considero essas aprendizagens importantes para uma vida plena na sociedade complexa na qual estamos inseridos. A aprendizagem e desenvolvimento cognitivo do currículo formal continua sendo a materialização da função social da escola.
Mas chamo a atenção para o cenário em que estes conteúdos são apresentados e que encontra jovens sem a esperança em um futuro de realizações pessoais e profissionais. Claramente não há conexão e gera dispersão. Entre o trabalho didático dos professores e a concentração dos estudantes para estudar há de se construir pontes e projetos de vida em que a escola esteja presente no imaginário dos educandos para que se perceba proatividade e protagonismo.
Estou convencido de que “esperança” é conteúdo escolar. Em uma sociedade que vive a tensão de que as coisas estão à deriva e piorando, quanto menor a esperança das pessoas, menos esforços, menos comprometimento assistimos. Por isso suspeito que estejamos perdendo talentos que poderiam se expressar no domínio de conteúdos complexos da física, no desenvolvimento da arte, do esporte, da literatura, entre outros campos do saber.
É nesta direção, em que o sonho dos jovens devem ser alimentados e apoiados intencionalmente, que a Secretaria da Educação do estado do Ceará vem, há tempos, empreendendo a sistematização pedagógica de iniciativas que visam trazer para o dia a dia da escola o fortalecimento da esperança e da plena satisfação em viver, a partir da construção do projeto de vida de cada jovem.
O Projeto Professor Diretor de Turma, por exemplo, presente em grande parte das escolas estaduais, trouxe uma inovação na abordagem pedagógica: a inversão de quem define a agenda de discussões e aprendizagens escolares. Os estudantes, ao serem acompanhados individualmente, passam a ser propositores de conteúdos. Seus medos e frustrações são captados e dão forma ao trabalho educativo dos professores que desenvolvem essa função. Por isso não tem um currículo definido. O conteúdo é construído na relação professor-aluno e se pauta na necessidade de se manter a esperança acesa.
Com o Núcleo de Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais, estrutura curricular que se afirma como eixo da proposta das escolas de ensino médio em tempo integral, os estudantes são instigados a vivenciarem experiências e reflexões acerca de si mesmos que promovem o desenvolvimento de competências socioemocionais. Desta experiência pedagógica, os estudantes são apoiados a se autoconhecer e projetar seus sonhos na parede da esperança.
Poderia citar várias outras iniciativas, como aprendizagem cooperativa, mediação social de conflitos e cultura de paz, oficinas sobre gênero e sexualidade e muitas outras. Mas o que queria compartilhar nesse texto é que não conseguiremos ajudar os jovens a aprenderem o que se espera no currículo sem antes os ajudar a identificar as razões que os animam verdadeiramente.
Portanto, a escola deve apoiar os jovens na construção de seus sonhos e estimular a acreditarem nesses sonhos. Isso é trabalhar pedagogicamente a “esperança”.