Há uma expressão que parece óbvia, mas que precisa ser reafirmada com certa frequência, para que não corramos o risco de perdê-la em nosso imaginário: a escola é espaço de reflexão.
Para corresponder às expectativas construídas sobre a instituição escolar, sobretudo a pública, ao longo desse duro processo de consolidação da sociedade democrática, não se pode negar a pluralidade de ideias, as diferentes visões de mundo, as diversas identidades ou qualquer característica associada à legítima expressão humana ou ao livre pensamento. Na escola, todas essas manifestações precisam coexistir em uma perspectiva educativa.
Pelas diferenças que se apresentam no contexto das escolas, uma habilidade importante a ser desenvolvida, já nos primeiros anos de escolarização, é o respeito às pessoas que, por qualquer razão, não se parecem com a figura idealizada por algum espectro da sociedade, que se veste de outra forma ou que construiu uma imagem de si mesma diferente do que foi estabelecido socialmente como padrão e imutável.
Reafirmar esse “óbvio” faz-se necessário, de forma especial, nesse momento em que se quer proibir a expressão das diferenças, em que professores e estudantes são expostos, fora do contexto das práticas de ensino e aprendizagem típicas da sala de aula, para julgamento público, sob a influência de uma onda conservadora paralisante.
A educação enquanto direito inalienável, constitucionalmente garantido, está associada ao desenvolvimento dos aspectos cognitivos que se dão por meio das disciplinas clássicas, mas também está vinculada a aprendizagens relacionais e atitudinais, sem as quais a formação do cidadão torna-se incompleta. Essa parte da educação somente pode ser aprendida diante do exercício do diálogo e da exposição dos antagonismos que compõem a nossa complexa sociedade.
Não considerar estas aprendizagens significa desvirtuar a função social desta instituição, coagindo as pessoas para que não assumam suas identidades, dificultando, assim, a plenitude da cidadania.
Estabelecer, portanto, um clima escolar estruturado no respeito, na empatia e na boa convivência garantirá o cumprimento de um processo educativo libertador, direcionado para o fortalecimento das premissas da civilidade.
Artigo publicado no Jornal O povo, 28 de maio de 2018.
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