A metacognição é um conceito pouco explorado nos projetos político-pedagógicos das escolas brasileiras. Ela está relacionada a um dos quatro pilares da educação defendidos no relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenado por Jacques Delors, e é conhecida como Aprender a Aprender.
Talvez por seguir uma tradição tácita começada nos primeiros anos da oferta da educação formal em nosso país, observa-se demasiado enfoque no conhecimento tutelado.
Oportunizar autonomia intelectual e emancipatória não parece ser uma premissa educativa que salta aos olhos ao observar o cotidiano escolar por ora, mas já é possível relatar muitas iniciativas em curso que são muito promissoras.
Apesar dos alertas de Paulo Freire, não nos distanciamos tanto quanto gostaríamos do que caracteriza a educação bancária. Nossa pedagogia, nesse sentido, continua com traços marcantes de autoritarismo e intransigência diante da necessidade de tratarmos o processo de desenvolvimento do conhecimento como algo fluido, construído numa teia complexa dos novos padrões das relações sociais globais e por meio do acesso quase irrestrito às informações, bem como a maior capacidade de publicização das reflexões elaboradas por cada pessoa. As verdades, na contemporaneidade, são constantemente contestadas no livre acesso aos variados meios de compartilhamento de ideias e achados científicos.
Para uma educação verdadeiramente transformadora, mais do que a tentativa de se “transmitir” conhecimento por meio da exposição incessante de conteúdos e informações minimamente sistematizadas pelo método científico, é muito importante possibilitar ao estudante a consciência sobre seu processo individual de desenvolvimento da aprendizagem, sobre estratégias para aprender de forma autônoma e proativa o que lhe é apresentado no currículo regular ou o que é fruto da revelação de sua curiosidade e necessidade.
O estudante, nesta percepção pedagógica, deve ser protagonista no processo de aprendizagem mediado pelos estímulos e planos de trabalho dos professores.
A educação pensada para uma “massa” de pessoas, sem considerar o protagonismo dos estudantes, reúne todas as características para nada fazer frente à necessidade de se reduzir as desigualdades no que tange ao desempenho educacional.
Cuidar para que os estudantes participem ativamente da sua aprendizagem pressupõe a realização de um trabalho intencional a partir do conceito de metacognição. Alunos precisam compreender os objetivos educacionais relacionados ao desenvolvimento do currículo, bem como os procedimentos avaliativos, serem orientados a elaborarem seus projetos de vida e fazer parte conscientemente do pacto pedagógico com professores e gestão em prol do sucesso acadêmico.
Protagonismo estudantil, portanto, é uma condição para a aprendizagem. No entanto, esse protagonismo não se desenvolve “naturalmente” ou por meio de estímulos frágeis. Precisa estar no bojo das ações pedagógicas, da intencionalidade formativa. Desenvolver a metacognição e criar as condições para o desenvolvimento da aprendizagem autônoma, consciente e solidária são basilares para a boa educação.
Excelente!!!! Especialmente oportuno, considerando o conturbado e potencial de desconstrução da nossa educação .
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