Quando iniciei minha vida de professor, ainda aos 18 anos, recém ingresso na universidade no curso de ciências sociais, lecionava numa sala de "aceleração", programa do governo do estado do Ceará na década de 1990 que pretendia corrigir fluxo, uma vez que na importante campanha de garantir a matrícula das crianças na educação básica, muitas já tinham uma idade avançada quando se matricularam pela primeira vez e com processo de alfabetização incompleto.
A intenção do programa era dar condições as crianças e jovens a se adequarem as séries indicadas para suas idades. Pela complexidade da missão, essa primeira experiência foi certamente a minha grande sala de aula, onde pude sentir toda a diversidade de ritmos de aprendizagem. Um desafio marcante!
Nas minhas reflexões sobre escola pública, essa vivência surge sempre como ponto de partida. Lembro das expressões dos meus alunos durante as atividades propostas, em que se revelava a timidez e a consequentemente dificuldade de comunicação.
Aprendi nesse período algumas lições:
1) Não tem como fugir. O mesmo assunto tem que ser abordado de forma diferente em sala de aula. A aula expositiva é útil para alguns, mas muitos somente conseguem aprender quando se envolvem em atividades de grupo, com metodologia participativa. Outros ainda precisam de atendimento individualizado. Numa perspectiva de aula inclusiva, é preciso variar os métodos de ensino de modo a envolver todos os alunos no processo de aprendizagem.
2) A aula tem que ter contexto. Como abordar um assunto sem partir de uma situação real ou resolução de um problema posto para a humanidade? Todo conhecimento foi desenvolvido a partir de uma necessidade humana. Então tem o por que de ter sido desenvolvido. Colocar para os alunos temas que não se sabe ao certo a necessidade de estudá-los, dificilmente traz o estudante para o circuito de atividades da sala de aula.
3) O tempo em que alunos de mantêm concentrados na mesma atividade não é tão elástico. Permanecer muito tempo numa mesma proposta é um convite para a dispersão da atenção e do interesse. O professor precisa estruturar suas aulas de modo que suas intervenções tragam elementos novos para os estudantes se manterem concentrados.
4) Mais importante que o método de ensino, é a capacidade do professor de conquistar a confiança dos alunos. Como assim? Os alunos precisam confiar que o professor está verdadeiramente envolvido com o sucesso acadêmico. A partir deste vínculo, as propostas de aprendizagem terão o envolvimento mais consistente dos alunos.
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