segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Lições da sala de aula: ter altas expectativas sobre os alunos faz a diferença

Quando comecei a lecionar nas séries finais do ensino fundamental e ensino médio, início dos anos 2000, a universidade não fazia parte nem de longe dos sonhos dos jovens. De fato eram poucas as oportunidades. Concluir o ensino médio parecia ser um feito bem expressivo frente a baixa escolaridade dos pais. O projeto de vida de cada aluno era muito tímido.

A pergunta que me fazia nesse momento era: o que fazer diante de jovens que não trazem de casa grandes expectativas quanto ao futuro acadêmico?

Esse período foi de grande aprendizado. Falar de futuro com estudantes que não tinham grandes expectativas em mente era um grande desafio. Como professor, pensava, era importante criar um clima de otimismo quanto ao que viria a ser na complexa vida desses jovens numa sociedade moderna, pós-industrial.

Nesse cenário, adotei algumas estratégias, que agora compartilho:

1-) Falar de projeto vida, de escolhas no presente que afetam o futuro, não era tema transversal. Era o preâmbulo das minhas aulas. Antes de qualquer matéria, o sonho de uma vida acadêmica de êxito e de esperança era instigado.

2-) Sempre quando possível, estendia minhas aulas por 10 ou 20 minutos após o toque final, numa sexta-feira, depois das 17h30. Era uma estranheza só por parte dos alunos. Mas queria mostrar que sonhar é bom. Mas realizar expectativas tem custo, requer dedicação.

3-) Estimulei o quanto pude o olhar para a realidade que os cercava. Para mim, ainda acredito, escola é lugar de transformação da sociedade. Nada mais estimulante que crer na força de cada um para construir um mundo melhor.

4-) Criar o clima de nenhum para trás é essencial. Não tem ensino de qualidade onde há exclusão. A primeira reação do jovem é querer desistir frente aos desafios postos. Mas se eles se sentirem apoiados, não há quem os segure.

Hoje olho para meus alunos das primeiras turmas que lecionei e vejo que muitos embarcaram em seus sonhos e conseguiram acesso à universidade. Muitos são professores da escola onde estudaram. E pelo que sei, são ótimos profissionais.

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