Pensar na organização pedagógica que melhor dialoga com as necessidades de promover aprendizagem significativa na escola, exige que façamos o exercício de mudar algumas perspectivas sobre o trabalho dos professores.
Antonio Nóvoa, pesquisador português que nos ajuda a ver novas possibilidades de organização escolar, sinaliza que os docentes precisam empreender duas mudanças importantes, de caráter transicional, a saber: do individual para o coletivo; de uma pedagogia frontal para uma pedagogia do trabalho. Este artigo tratará destes dois movimentos de transição.
Muitos professores trabalham numa mesma escola. No entanto, a aula e sua preparação são, na maioria dos casos, um ato individual. Se a dimensão da aula é a transmissão de informações, sem conexão com o projeto político pedagógico da escola e sem vínculo com a visão de formação integral, a forma como está não requer mudanças. Mas se o compromisso da escola é a formação baseada na integração dos saberes de modo a dar mais condições aos estudantes de ler o mundo e se encantar com as descobertas sistematizadas ao longo das gerações humanas, o trabalho coletivo dos professores é uma condição inquestionável.
Experiências mundo a fora relacionadas ao incentivo e organização do trabalho coletivo dos professores demonstram mais potencial em desenvolver a profissionalização docente.
A tarefa de educar é complexa. Nem sempre o método que é utilizado em sala de aula é o mais adequado para o perfil e necessidades dos estudantes. Daí a importância de se ter bons feedbacks dos pares quando se desenvolve um plano de aprendizagem.
Um grupo de professores ao prepararem as mesmas sequências didáticas e acompanharem a execução do plano pelo colega permite uma interação e fortalecimento da parceria pedagógica para aperfeiçoar o trabalho docente. Além disso, a tão sonhada integração dos saberes escolares, de modo a torná-los significativos, necessita de uma preparação integrada das atividades estruturadas para os estudantes.
Sobre a pedagogia frontal versus a pedagogia do trabalho, é preciso partir da seguinte reflexão: é coerente dar a resposta de uma pergunta que ainda não foi feita? Estranho!
Mas é isso que se faz cotidianamente na escola. Dá-se uma explicação genérica sobre um assunto relacionado a algum componente curricular, de forma ampla e até certo ponto superficial, e depois se faz perguntas de "fixação" do conhecimento. Isso não é lógico e nem muito menos didático.
O conhecimento científico inicia com uma pergunta, o problema; depois se faz o levantamento de hipóteses com base no que já se sabe a respeito; na sequência se faz leituras sobre as descobertas já sistematizadas por outras pessoas até que, por fim; chega-se a uma conclusão aceitável sobre a questão levantada, podendo até surgir novas teses. Esse é o circuito da pedagogia do trabalho, que se confunde com o método científico, no qual o estudante é instigado a buscar o conhecimento, com vistas a "Aprender a Aprender".
Perceba que a pedagogia do trabalho é a oposição da pedagogia bancária, tão denunciada por Paulo Freire, mas que se vê repetida nas salas de aula na contemporaneidade, contrariando um princípio presente em praticamente todos os projetos políticos pedagógicos das escolas: formar cidadãos críticos e reflexivos.
Criticidade e reflexão não se desenvolve ao ouvirmos aulas, exposições, embora sejam importantes também. Essas dimensões caras para a educação libertadora, baseada na autonomia intelectual, são aprendidas pela vivência, pela busca da sistematização do conhecimento para o qual os estudantes precisam ser preparados.
Enquanto as aulas forem baseadas na memorização de conceitos vagos, teremos uma educação pouco significativa para os jovens.
De todo modo, estas desejadas mudanças de paradigmas não ocorrem naturalmente. É preciso uma intensa discussão em cada escola com o objetivo de responder a seguinte pergunta: a escola onde trabalho está desenvolvendo uma proposta pedagógica articulada a necessidade de formar cidadãos capazes de continuar aprendendo ao longo da vida, de modo a interagir na sociedade do conhecimento?
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